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sábado, 10 de março de 2012

A importância dos oceanos

Um dos mais complexos e intrincados sistemas do mundo é dos oceanos. Sua importância para a sociedade humana é vital. A IBM está dedicando muitos esforços em ajudar a entender e a desenvolver novas maneiras de nós usarmos de forma sustentável a potencialidade dos oceanos. É um dos temas centrais dos estudos do GIO (Global Innovation Outlook) e recentemente criamos o IBM Center of Excellence for Water Management, em http://www.ibm.com/news/ie/en/2008/06/16/d161543u03583x33.html .

Entender e estudar os oceanos não é simples. Na minha opinião, é também necessário mudarmos a visão unidimensional do mundo, com seu antagonismo entre preservação e respeito à natureza e o desenvolvimento econômico. Os inúmeros casos de degradação ambiental mostram claramente que já esgotamos este paradigma. Precisamos sim, mudar a visão de unidimensional para tridimensional, incorporando de forma integrada as dimensões econômicas, socais e ambientais. 

Podemos lembrar da famosa frase “A Terra é azul” dita pelo astronauta Yuri Gagárin em 1961 ao falar da cor dominante do planeta e que muitos pensam que foi por causa do azul do mar. Embora a cor azul seja resultado da refração da luz solar, a imagem do planeta água não é de todo impossível. A maior parte da superfície da Terra é coberta por água e desta, 97,5% estão nos oceanos e mares. Toda esta imensidão nos fez acreditar que jamais conseguiríamos afetar os ecossistemas oceânicos de forma significativa. 

Mas, infelizmente, começamos a ver claros sinais que estávamos enganados. A ação poluidora do homem está afetando e, em muito, os oceanos do planeta. 

Estes mesmos oceanos que vemos das praias e que não damos a devida importância ao seu papel na economia global e no próprio sistema climático. 

O ser humano sempre buscou ficar perto dos oceanos, para facilitar o transporte e comunicação e deles extraírem alimentação. Hoje quase metade da humanidade vive no litoral ou próximo a ele. A maioria das maiores cidades do planeta estão nas regiões costeiras. E estas regiões concentram a maior parte da infra-estrutura econômica da Terra.

Os recursos costeiros e marinhos representam um patrimônio natural cujos bens e serviços marinhos são estimados em mais de 21 trilhões de dólares anuais, mais de 70% superior aos sistemas terrestres. 

A pesca predatória tem causado o colapso de ecossistemas marinhos em grande parte dos oceanos. O volume de pescado estagnou na ultima década e a pesca comercial baseada na prática do arrasto é altamente perdulária, com cerca de 25% do volume pescado sendo descartado. Algumas espécies, como o atum, estão ameaçadas de extinção e outras como o bacalhau já mostram queda acentuada de sua população e cerca de 25% das espécies comerciais estão superexploradas.

Mas não é só a pesca predatória que afeta os oceanos. Resíduos da atividade humana, como lixo plástico, dejetos industriais, fertilizantes e substâncias químicas vão parar nos mares alterando a sua composição química, pois favorecem a proliferação de bactérias e algas, que por sua vez consomem o oxigênio da água, sufocando corais e comprometendo a cadeia alimentar. 

O lixo plástico é uma das maiores ameaças aos oceanos. Estima-se que existam pelo menos 46.000 peças de plástico em cada 2,5 quilômetros quadrados de oceanos. Para se ter uma idéia deste volume, podemos multiplicar a área dos oceanos (361 milhões de quilômetros quadrados) por 46.000 e chegaremos ao incrível numero de 625 bilhões e 600 milhões de peças de plástico que estão boiando hoje nos oceanos!

Deste total 4/5 chegam ao mar varridos pelo vento ou levados pelos rios e esgotos, e 1/5 lançados pelos navios. O lixo plástico na região da ilha de Midway, no Oceano Pacifico é responsável pela metade das 500.000 mortes de albatrozes que nascem a cada ano na ilha. Os albatrozes alimentam seus filhotes com pequenos pedaços de plástico, que confundem com comida. As algas tóxicas envenenam mamíferos marinhos que se alimentam, de sardinhas e enchovas que por sua vez, se alimentam destas algas. As toxinas provocam tremores, convulsões e comportamentos agressivos, colocando em risco a sobrevivência dos espécimes. As toxinas também enfraquecem o sistema imunológico dos animais marinhos, tornando-os vulneráveis a parasitas, bactérias e vírus. Já se encontraram no Havaí tartarugas marinhas com tumores do tamanho de uma maçã em volta dos olhos, na boca e atrás das nadadeiras.

As algas tóxicas também geram as conhecidas marés vermelhas, que são elevadas concentrações destas algas em águas próximas do litoral. A incidência destas marés vermelhas está cada vez maior. Por exemplo, no Golfo do México, há uma década atrás acontecia uma a cada dez anos e hoje acontece todo ano e que pode durar meses. As toxinas produzidas pelas marés vermelhas matam peixes e podem causar reações alérgicas nos seres humanos e mesmo provocar infecções intestinais caso sejam consumidos frutos do mar obtidos de regiões onde a maré vermelha ocorreu. Marés vermelhas são um claro sintoma de um oceano doente.

A falta de cuidados com os oceanos nos levam a despejar, sem tratamento, esgotos e resíduos industriais no mar, poluindo aqüíferos, mananciais e águas costeiras. A poluição pode afetar os ecossistemas marinhos de forma irremediável. Vamos dar exemplo: um fluxo constante de água doce contaminada com resíduos de insumos agrícolas e esgotos industriais e humanos é lançado no mar. Como a água doce não se mistura com as camadas mais profundas da água salgada do mar, criam-se duas camadas de água. A camada mais profunda é mais salgada e mais densa. A mais superficial, contaminada pelo excesso de nutrientes gerados pela poluição, favorece a proliferação de algas. Estas algas, ao morrerem, são depositadas no solo marinho, onde são degradadas por bactérias que consomem boa parte do oxigênio da água. E por causa dos baixos níveis de oxigênio, a vida marinha entra em colapso. Cria-se o que chamamos de zonas mortas. Segundo a ONU, o número de zonas mortas nos oceanos vem dobrando a cada década. Hoje já existem pelo menos 150 zonas mortas, sendo que uma delas está no entorno da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. 

Também as emissões de dióxido de carbono afetam os oceanos. Parte destas emissões vai para atmosfera e forma o chamado efeito estufa. Outra parte vai parar nos oceanos e torna a água mais ácida. O dióxido de carbono, em contato com o mar, se transforma em ácido carbônico e altera o nível de acidez – o chamado pH – da água. Nas últimas décadas o nível de acidez vem se reduzindo sistematicamente e caso mantenha este redução até o fim do século, o nível de acidez dos mares será vinte vezes maior que hoje. Muitas espécies de peixes e mamíferos marinhos simplesmente não sobreviverão.

Portanto, falar em sustentabilidade e preservação deste patrimônio natural é condição de sobrevivência para a população da Terra e não apenas de pescadores. A natureza começa a reagir. As mudanças climáticas contribuirão para elevação do nível do mar e alguns poucos metros a mais afetarão pelo menos um bilhão de pessoas que vivem à beira-mar.

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